Regresso a casa, ainda dia... luz
Dou comigo a pensar em como está longe a porta de embarque que nos separou até hoje,
Um verão que passou, um inverno a terminar
Dou comigo a contabilizar os dias, a equacionar a possíbilidade do teu voltar,
Se por um lado o tempo é um aliado que nos ajuda a guardar apenas o que é bom de guardar... o tempo... assusta-me
Morro de medo de perder os teus contornos,
Gosto de ficar a recordar-me dos teus pormenores, o teu pijama roto e gasto
Fecho os olhos e ainda consigo sentir o deslizar dos teus dedos nos meus cabelos acabados de secar...
Tenho medo que, com o chegar da primavera, o meu sonho perca o teu rosto... assim:
Acordo..
Os olhos estavam baços... cerro-os, esfrego-os com veemência como quem quer penetrar além do atingível!
O teu rosto? pergunto-me e arrisco-me a requestá-lo nos breves instantes que se seguem...
Destapo todos os episódios, desobestruo todas as portas, escavo um beijo distraído, invado museus, corro por ruas e artérias, ingresso na cólera de um filme mudo.. nada!
Sinto um náufrago no peito, por instantes fico a boiar no infinito a consumir pirulitos por conta própria!
Este acordar carnívoro nos mornos lençois faz-me abandonar o chão, abala a realidade de todas as coisas...
Que agonia é esta? Que me segue os passos, que me espreita os gestos, que me assombra o corpo, que me acorda de noite e me grita de dia?
Rendo-me?
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