Cito-me:
Quando a guerra acabar...
Os braços estarão cansados, as veias dilatadas, a voz rouca
As folhas de jornal estarão gastas de notícias banalmente repetidas
Os serões serão frios e esguios
Daremos conta que as chamas ardentes e corrosivas foram estintas pelo silêncio
Quando esse dia chegar nos bolsos não restarão mais pedras e o olhar carregará a desconfiança que trava a abertura e o altruísmo
No rosto restará a foligem, nas mãos a profundidade de rios que não escoam, o sangue viajará contra a corrente
Nesse dia já ninguém recordará a terra que um dia foi fértil, em que um dia se semeou
Seremos apenas dois soldados de roupas gastas e rotas
No tacto farpas cravadas impedem o sentir
Por dentro, se descermos o túnel que nos leva dentro de nós encontraremos, no lugar do coração, cacos do que outrora se construiu e se pensou para sempre
Quando a guerra acabar, quando esse dia chegar...
... à nossa volta reinará a destruição movida pelo egoísmo, pelo argulho desmedido que deitou a baixo o sonho, o mesmo sonho... ou... seremos apenas dois estranhos de uma mesma história habitantes de um olhar distante...
(25.03.08 before Amsterdam)
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