Na maioria das comédias romanticas que assisti, quando se dá o fim de uma relação a rapariga sofre profundamente durante uma, vá lá, no máximo duas semanas.
Durante a primeira semana todas as rotinas e necessidades básicas são substituídas pelo choro e exílio debaixo dos cobertores, em casa, vê filmes romanticos a preto e branco e imagina como seria a sua história se tivesse aquele final feliz... chora... chora... chora... Não atende o telefone e é bem capaz de passar um dia ou dois sem ir trabalhar.
Na segunda semana aparece a brigada do chocolate (as amigas), com a missão do salvamento da vítima, levam um kit de sobrevivência que inclui um verniz, uma roupa nova, 3 bilhetes para o teatro, um mandato de captura com base num decreto lei qualquer barra não sei quê, que lhe mostre que ela é "uma mulher fantástica"!... e pronto!
A vítima é uma nova mulher, volta a calçar sapatos de salto alto, a caminhar de cabeça erguida... enfim... fecha a porta daquele quarto, encerra o capítulo, vira a página.
Eu não díria que ela deva bater a porta, porque também esse quarto e o seu conteúdo comporta o que somos, que não é mais do que o que fomos, vivemos, rimos, chorámos, sofremos... e tudo isso merece o nosso respeito (penso eu).
O problema surge quando, como no meu caso (atenção que não estou a vitimizar-me, é apenas uma reflexão como todas as outras), o luto se perpetua durante meses e meses sem que haja um funeral, uma incineração, é uma despedida permanente que amputa o presente e o futuro. O dia a dia passa a representar um círculo, como aquelas rodas das gaiolas dos hamsters. A vida converte-se numa recordação agridoce permanente entre o que aconteceu, o que poderia ter sido e não foi, o que tivemos e perdemos e assim gastamos as nossas energias.
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. 8 meses e 14 dias depois....