After Amsterdam

Se há noites em que os sonhos têm vida própria, esta, queria porque queria marcar encontro contigo!

Antes de adormecer, fechei os olhos e pensei (mas um pensar com muita força, como que um acreditar!)... pensei em ti, folheei a minha agenda, escrevi "até já" e comprometi-me a chegar a horas.

Olhos fechados, respirar de sono, antes do "até já", hora que tinha marcado contigo, lá estava eu! Perna traçada, pé num ligeiro vai e vem nervoso de quem espera e aquele gesto irritante (quase tão irritante como quem rói as unhas), um gesto meu que não sei descrever, tu conheces... Esperava-te!

... Porque não compareceste ao encontro?

Amanhã vou sonhar que um dia sonharei contigo!

Baloiço entre o sim e o nada, numa cadência invisível

Saboreio o vento que outrora me beijou o cabelo, sinto-lhe um travo a tudo, a nada

Fico suspensa entre o amor e a indiferença

Sustenho a respiração

Abandono-me, deixo de sentir os pés na terra

Atiro-me para fora de pé numa oscilação, sem que ouça rodar a chave para lado nenhum

Não me pertenço

Obedeço

O medo está por perto, empresto-lhe um pouco de mim

Olho linhas escritas no cèu... para quê? pergunto-me

Só queria parar este escrever que me acorda e me abala o sossego, que me deixa neste vai e vem

Já é hora de voltar, os ponteiros marcam um depois necessário, um virar de página, um desvio para a vida