Já imaginei o meu sonho desta noite...
Olha lá no cimo e bem na vertical. Vês?
Foram precisos muitas descobertas e batalhas para teres conseguido suportar toda a coragem. São poucos até, os que se dignam a percorrer tantos quilómetros, vidas para um só destino. E tu conseguiste!!
Estou muito feliz por ti, é verdade.
Correu tudo bem?
O importante é que neste momento estás aqui!
Não, não precisas de te desculpar, bem sei que também não te foi fácil...
E agora, depois de todos estes anos... aqui!
Não importa o resto pois não? O que importa é que aqui estás!
Deixa-te estar mais um pouco! Amanhã o despertador não toca e eu hei-de acordar mais tarde...
A minha espera tornou-se um caos para o pensamento, mas eu sabia que virias, tantas coisas para contar e agora não sei o que te diga...
E digo e penso tantas coisas ao mesmo tempo, o meu último desejo é não te cansar com banalidades de tantas cartas escritas... Nunca as recebeste pois não?! Eu sabia...
É bom este lugar... ainda bem que estás aqui!
Regresso a casa, ainda dia... luz
Dou comigo a pensar em como está longe a porta de embarque que nos separou até hoje,
Um verão que passou, um inverno a terminar
Dou comigo a contabilizar os dias, a equacionar a possíbilidade do teu voltar,
Se por um lado o tempo é um aliado que nos ajuda a guardar apenas o que é bom de guardar... o tempo... assusta-me
Morro de medo de perder os teus contornos,
Gosto de ficar a recordar-me dos teus pormenores, o teu pijama roto e gasto
Fecho os olhos e ainda consigo sentir o deslizar dos teus dedos nos meus cabelos acabados de secar...
Tenho medo que, com o chegar da primavera, o meu sonho perca o teu rosto... assim:
Acordo..
Os olhos estavam baços... cerro-os, esfrego-os com veemência como quem quer penetrar além do atingível!
O teu rosto? pergunto-me e arrisco-me a requestá-lo nos breves instantes que se seguem...
Destapo todos os episódios, desobestruo todas as portas, escavo um beijo distraído, invado museus, corro por ruas e artérias, ingresso na cólera de um filme mudo.. nada!
Sinto um náufrago no peito, por instantes fico a boiar no infinito a consumir pirulitos por conta própria!
Este acordar carnívoro nos mornos lençois faz-me abandonar o chão, abala a realidade de todas as coisas...
Que agonia é esta? Que me segue os passos, que me espreita os gestos, que me assombra o corpo, que me acorda de noite e me grita de dia?
Rendo-me?
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